E agora, José?
A Copa acabou,
A luz apagou,
Os estrangeiros sumiram,
Os de Ghana ficaram,
E agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
Que zomba dos argentinos,
Você que canta pagode,
Que ama e não protesta?
E agora, José?
Está sem saúde,
Está sem educação,
Está sem candidato fiáveis,
Já não pode expressar sua opinião política,
Já não pode escolher ser homem ou mulher,
Eleger outros já não pode,
A urna está corrompida,
A Copa das Copas acabou,
O dinheiro não veio,
O transporte não veio,
O emprego não veio,
Só veio a utopia,
E tudo acabou,
Os petralhas na cadeia saíram,
Só os pobres lá ficam,
E agora, José?
Sua falta de palavra,
Seu instante de picaretagem,
Sua ganância,
Os livros que não leu,
Seu cartão Ourocard,
Seu cartão Visa,
Seu cartão MasterCard,
Todos com limites estourados,
Sua dívida – e agora?
Com a chave na mão,
Quer abrir a porta da casa,
Não existe casa;
Quer morrer com decência num hospital,
Mas não há vaga;
Quer ir para o exterior,
Mas brasileiros não são mais bem-vindos.
José, e agora?
Se você gritasse quando ainda era possível,
Se você manifestasse quando ainda era livre
Se você não elegesse corrupto,
Aqueles que estão em Brasília,
Se você lutasse,
Se você morresse lutando,
Mas você não morre,
Você é covarde, José!
Sozinho num Brasil esquecido pelo mundo,
Qual bicho-do-mato,
Sem quem te represente,
Nem justiça alguma
Na qual possa confiar,
Sem carro preto,
Que fuja em disparada
Você marcha, José!
José, para onde?
por Luis A R Branco
P.S. Sátira inspirada na na poesia do grande intelectual e poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
Excelente texto! É a nossa velha conhecida “quarta-feira de cinzas”. Sobra à fantasia, já não tão bonita, a maquiagem borrada e a tremenda ressaca.
Parabéns pelo texto !. É sempre uma utopia quando se fala do povo josé.
Pobre cidadão que não tem cultura e vive quase como adão.
Sem segurança, saúde e educação. Mas é esse José com nome simples de cidadão,
Não reclama, Não critica e a única coisa que tem é seu sambão.
Quanta ironia seu José. Todos reclamam por você e mesmo assim você não da atenção.
José, na sua humildade. Decide o futuro dessa nação.
Sucesso Luis !
MarquesK
#SooRockAlivia
Pena ser tão pessimista, a sátira
A poesia de Drummond era pessimista com o José, ou não era? Eu poderia fazer uso da liberdade artística e protagonizar um José mais carnavalesco, mas seria uma ofensa à Drummond.
Sem dúvida Drummond foi pessimista, há uma apelo dramático naquela poesia, você tem toda a razão. Na verdade, não fiz uma crítica, acho que você percebeu assim. Apenas lamentei o pessimismo.
Sim, entendi bem. Gosto dos teus comentarios. O José é um retrato triste de todos nós!
Luis A. R. Branco, é muito bonita, mas muito triste e pessimista, realmente nós somos o José analfabeto, que ainda tem ilusão. Essa ilusão que poderemos conquistar um futuro através dos outros e não de nós mesmos.
Ainda acredito no povo brasileiro, começa, ainda que lentamente, um processo de reação tendo como referência o conhecimento da realidade. Cabe ressaltar que, as redes sociais tem papel relevante nessa mudança.
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EXCELENTE SÁTIRA! OS”JOSÉS”QUE COLOCARAM O PAÍS NESSA TERRÍVEL SITUAÇÃO QUE ESTAMOS DEVERIAM LÊ-LA E FAZER UMA PROFUNDAREFLEXÃO.
MARAVILHOSA SÁTIRA! TODA A VERDADE EM QUE O PAÍS SE ACHA FOI MOSTRADA DE FORMA GENIAL! PENA O JOSÉ ESTAR ESCONDIDO E EMUDECIDO , POIS NÃO TEM ARGUMENTO PARA QUESTIONAR .
Pois é, e agora?